[Crítica] Caminhos da Floresta (2014): muito além da magia e dos finais felizes


Nome Original: Into the Woods
Ano: 2015
Duração: 2 horas
Direção: Rob Marshall
Frase que resume o filme: Nem todo humano é bom, nem todo gigante é mau.

Olá, pessoas! Lucas mais uma vez aqui. Hoje trago a crítica de um filme que eu estava aguardando a um bom tempo, "Caminhos da Floresta" (ou como seu superior título original, Into the Woods). Ele estreia aqui no Brasil dia 29 de Janeiro, mas pude conferi-lo antecipadamente.

Esse filme é a adaptação de um espetáculo lendário da Broadway, criado em 1986, com músicas de Stephen Sondheim e texto de James Lapine, sendo que o filme foi roteirizado pelo próprio Lapine. Ele foi dirigido por Rob Marshall, um especialista em adaptações da Broadway para o cinema, vide "Chicago" e seus prêmios Oscar.

Na trama, em um reino distante, em uma pequena vila, vidas correm separadas, mas ligadas por algo simples: desejos. Uma jovem órfã chamada Cinderela (Anna Kendrick, absurdamente adorável), explorada por sua madrasta e suas irmãs, deseja apenas ir ao baile do rei; o pequeno João (Daniel Huttlestone, em uma atuação incrível) deseja apenas que sua vaca desse um pouco de leite; um padeiro (James Corden) e sua esposa (Emily Blunt) desejam um filho; a pequena Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford, estranha porém surpreendente) quer apenas um pouco mais de doces em sua cesta, para levar à sua avó - e satisfazer a sua gula.

Tudo muda quando uma poderosa bruxa (Meryl Streep, fazendo valer sua décima-nona indicação ao Oscar) invade a casa do padeiro e lhe informa algo aterrorizante: sua família fora amaldiçoada por ela, sendo todos os homens estéreis. Para quebrar a maldição o padeiro e sua esposa devem recolher quatro itens: uma vaca branca como leite, uma capa vermelha como sangue, um cabelo amarelo como milho e um sapatinho puro como ouro. Tudo isso em três noites, por dentro da floresta que fica ao redor da vila. A partir daí, histórias começam a se entrelaçar, ao mesmo tempo em que finais felizes começam a ser construídos - e destruídos.

A única palavra que pode descrever sem dúvidas é: surpresa. Tudo nesse filme soava como uma espécie de episódio estendido com efeitos decentes, porém com músicas, de "Once Upon a Time". O fator Disney também causa uma certa estranheza. Mas, minha pouca experiência com musicais da Broadway me deu esperanças, e não foi à toa. Into the Woods é, na verdade, uma grande crítica disfarçada de musical infantil.

Não se engane pelo início adorável e sincronizado, com a música que dá título ao filme, "Into the Woods", nem pelo humor muitas vezes espalhado com certa maestria. O filme sem dúvida é como um lobo em pele de cordeiro. Conforme mais camadas vão sendo tiradas, se percebe algo escuro por dentro. Se por um lado tememos a bruxa, em outra cena chegamos a sentir pena dela, vide a cena da música "Stay With Me". Se rimos do Príncipe Encantado (Chris Pine em uma atuação canastrona e divertida) e de seu irmão (chamado literalmente de O Outro Príncipe, interpretado com certo encanto por Billy Magnussen) na performance escrachada de "Agony", ou celebramos a inocência não tão inocente de João na famosa "Giants in the Sky", o lado sombrio de todos os personagens ditos bons emerge em uma das últimas músicas, "Last Midnight".

"Vocês não são bons nem ruins, são legais.
Eu não sou boa ou legal, só estou certa."

A performance dos atores casa muito bem com as músicas, principalmente James Corden, que interpreta um dos personagens com mais decência, e sua a correta porém gananciosa esposa interpretada com vividez por Emily Blunt, e MacKenzie Mauzy, com uma Rapunzel apaixonada, porém decidida. Obviamente, é Meryl Streep que carrega uma grande parte do brilho do filme, oscilando entre maldade e bondade em um olhar ou movimento da mão. Ela é quase uma mistura do vilão com o tutorial de um jogo divertido, porém perigoso.

Há um certo "quê" de realismo no filme, mesmo ele sendo em mundo cheio de magia. O visual é encantador, porém às vezes soturno. Há uma sujeira no mundo, e ela se reflete nos contos de fadas. O fato de explorarem o fato de todos os personagens não serem essencialmente bons é bem impressionante para uma fantasia. No meio de todo encantamento, existe espaço até mesmo para um quase-adultério, mutilações e assassinatos, somando-se a isso até mesmo uma tocante discussão moral sobre bondade e maldade, erros e acertos, na música "No One is Alone". No fim, tudo parece ser bem mais maduro do que o esperado.

Porém isso não livra o filme de erros. O fato de boa parte dos arcos narrativos, tanto o principal, quanto os paralelos, serem encerrados bem antes do final quebra o ritmo e deixa a sensação de que o filme é mais longo do que aparenta. Os furos na história, alguns discretos e outros gritantes - principalmente o do encerramento da história da Rapunzel e sua ligação com o arco central - quase que ofuscam os grandes acertos do filme. Sem falar do pouco aproveitamento de certos atores, como a participação quase que minúscula de Johnny Depp com seu Lobo Mau, ainda que a execução de seu número musical, "Hello, Little Girl", seja espetacular. Provavelmente se deve ao fato do musical original (uma ótima versão ao vivo legendada pode ser baixada no YouTube) ter um pouco mais de duas horas e meia, sendo que praticamente meia hora de história (e até personagens) foi perdida no salto dos palcos para as telas de cinema.

Porém, as reviravoltas finais, que literalmente tiram o chão de todos os protagonistas, mostrando as consequências dos desejos de todos eles, é que trazem mantém parte do encantamento. A sensação ao terminar de assistir esse musical é incompleta, porém satisfatória. A mensagem ao final, um alerta tanto para as crianças, quanto para os adultos, pode parecer simples e até mesmo clichê, mas continua poderosa.

"Cuidado com o que deseja. Desejos não são de graça."

NOTA: 4 Estrelas

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