Resenha #112: O Doador de Memórias, da autora Lois Lowry

Nome: Série O Doador - Livro Um: O Doador de Memórias
Autora: Lois Lowry
Editora: Arqueiro
Nota: 4 Estrelas
Compre: Saraiva - Submarino - Livraria Cultura

Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente - o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. 

Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. 

Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar. Logo, não consigo mais se adaptar àquela falsa realidade, Jonas terá outra tarefa cruel pela frente: escolher entre a própria vida e a salvação de seu povo.

Resenha:

Olá, pessoas! Lucas de volta. Hoje a resenha é de um livro bem peculiar, "O Doador de Memórias", da autora Lois Lowry, escrito em 1993 e relançado no Brasil em 2014 (sendo que ele já havia sido publicado por aqui com o título de "O Doador"), como forma de pegar carona na adaptação cinematográfica.

O livro se passa em um futuro não especificado, porém pelo que se vê, distante, onde os governos implantaram um novo sistema: as Comunidades. Habitadas por pessoas com sentimentos, porém sem emoções, elas vivem em paz sob um rígido controle comportamental criado pelos Anciões, os chefes locais. Não existem lutas, não existem insatisfações, nem fome ou anseio. Porém, também não existem raças, crenças, nem cultura ou ideologia. Tampouco memórias de como o mundo era antes de tudo. Todos vivem pela Comunidade. Todos são felizes.

Em todas as Comunidades, quando as crianças completam 12 anos, eles participam de uma cerimônia que determina seus futuros. Em uma dessas Comunidades em particular, Jonas é o que mais se atormenta pelo medo de não pertencer a lugar nenhum. Porém, ele é o escolhido para ser o novo Recebedor de Memórias - o responsável por aconselhar os Anciões com os segredos do passado, usando sua sabedoria no presente. Porém, quando ele descobre o real preço pela ausência de sofrimento da sociedade, ele terá que encarar uma dura escolha que poderá destruir sua vida - e salvar seu povo.

Para começar, preciso destacar a importância que esse livro tem para a cultura americana. Ele é literatura obrigatória nos Estados Unidos (algo que já se pode ver em que o nível o Brasil ainda está). Sem falar que ele também foi uma das primeiras distopias juvenis a serem criadas, servindo de influência para Jogos Vorazes, Divergente, Maze Runner, dentre outras.

Voltando para o livro, ele também se destaca por praticamente não possuir cenas de ação. Aqui é uma discussão mais filosófica do que física: até que ponto evitar a dor pode nos deixar mais felizes? Será que realmente vale a pena abrir mão das emoções para permanecer no caminho "certo"? O livro aborda tudo isso de uma forma que altera entre onírica e visceral. O horror sangrento da guerra se mistura ao suave e altivo tom da música clássica. O nascimento de um filho se mescla a um enterro.

O fato da autora usar uma criança como fio condutor da narrativa também é algo muito legal. Jonas se fascina, questiona, teme e contesta tanto o velho mundo quanto o novo. Não existe a princípio um único lado a escolher. Somente a medida que o suspense e a trama avança, é que a certeza de que todo aquele mundo é errado se intensifica. Logo a discussão deixa passa a ser: a preservação de muitas vidas justifica o sacrifício de uma?

O mundo criado por Lois também é fascinante, pois combina tecnologia avançada com atitudes dignas de antigas habitações do século 19, em um paralelo muito interessante sobre o avanço da ciência e o retorno de um pensamento retrógrado e conservador, duas divergências que constantemente se chocam. Também, pelo contexto em que o livro fora lançado, um ano depois do fim da antiga União Soviética, percebe-se ali uma leve porém concisa crítica aos governos mundiais.

Outros personagens, como os amigos de Jonas, Fiona e Asher, também são importantes, ainda que não muito significativos no final, servindo mais para entender dois aspectos: com Fiona, o despertar amoroso, e com Asher, o real valor de uma amizade. O Doador também é um ótimo Mestre Jedi, mas o personagem que mais salta a quem lê é um recém-nascido chamado Gabriel, que é responsável por uma das maiores reviravoltas da trama.

Porém, o maior defeito do livro (que acabou tirando uma estrela), é seu final. Ele é meio inconclusivo, e não mostra muito as consequências do que é feito, e nem se terão uma resolução. Mas isso não diminui a beleza, e nem o brilho de uma história tão marcante.

PS: Os outros livros da série (são quatro) não eram publicados no Brasil, mas a Editora Arqueiro decidiu lançá-los e o segundo volume, "A Escolhida", já está à venda. Não sei se ele continua a jornada de Jonas, mas quando eu o ler, posso dizer a vocês.

Um comentário:

  1. Eu já li o livro e assistir o filme adorei os 2
    http://cantinhodacarolll.blogspot.com.br/

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